sexta-feira, 25 de maio de 2018

Infant

Sapatos de criança e carrosséis,
todos os pais e mães, tão fiéis,
os filhos e filhas, uma dança:
esperança é ser criança.

Infância, o mundo tão indescoberto.
Nostalgia mais que infinita,
eu não quero estar desperto.
[nunca mais

Quero passar um tempo sozinho,
pensar em todas as latas de ninho,
na reprimenda dos vizinhos,
em todos os meus joguinhos.

Em todos os fins de tarde sem fim
junto ao cachorro e ao meu irmão,
tão tão tranquilos, que eu podia até
ouvir a batida do meu coração.

Ser feliz?Você insiste?
Ah, Igor! Olha só:
Colangite.

O teu riso nunca mais
vai ser assim pulsante;
entende? Esclerosante

Infância, o mundo tão indescoberto.
Nostalgia mais que infinita,
nostalgia nunca mais

[eu não quero estar desperto

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Carta do exílio

Desde o dia que morri
não logro mais escrever,
a eternidade me faz refletir
que foi tudo por você. ⠀

Deixe ir o peso da culpa,
não por isso estou a escrever;
descanse esse corpo que beijei.
Encerro minha vida para transcender.


Afirmo que não mais escrevo,
porém mando essa carta de contradição:
é a derradeira para te dizer
que se vivi, você foi uma razão. ⠀


Não ''a razão'', mas uma das que importa.
Observo a majestosa lua iluminar
no sem fim do meu exílio etéreo,
tudo que na pré morte costumava reinar

terça-feira, 11 de abril de 2017

Dançar

Em pé ou não,
o seu chegar
é o inicio
do meu pulsar.

Queimando vorazmente
que todos teus dedos
peguem e alcancem
apenas delicadamente.

Batendo e batendo
rápido e devagar,
abaixando e se erguendo,
continue a dançar

Como um trovão
alto e abafado,
me dê sua mão.

Cavalgando fogo,
lambendo labaredas,
prazeroso jogo, de
compridas noites.

Continuemos a dançar
Continuemos a dançar
Continuemos a dançar
Continuemos...

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Loop





Experimentar uma queda,
uma colisão e uma subida
através de um loop macabro;
todos componentes da vida

Ensinado nessa dança
que corroí esperança,
constrói horror,
arquiteta loucura amor

O implodir não é pensado,
assim como cada loop
estou mudado e atordoado
(O cinismo era esperado)

A realidade transforma a todos;
ressentir é se atrasar;
a repetição nos matará;
finalmente estaremos felizes.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Fascínio

Eu me aproximava do seu trono
de frio e estacas no coração,
nada me importava
além dessa alucinação.

Sob efeitos e sensações,
surpreso por tuas ações.
Bobo assim nunca fui
mas desejei ser.

Embrenhado na selva mística
dos seus cabelos negros,
não pensei na logística
de me entregar aos erros.

Brinco disso há muito tempo;
enquanto finjo me perder
no seu jogo de sombras,
quem se perde por mim é você.

domingo, 5 de junho de 2016

Pecados de uma nova era.


Eu gostaria de ser cego.Uma questão de preferência, e não auto-mutilação.Pessoas vem e vão aos montes,em um piscar de olhos,mas o que fica é um gosto ruim na boca.

Elas vem e vão ininterruptamente,tão rápido que não da para se acostumar.Fui convencido de que se acostumar é um dos grandes males da convivência: está ai na TV,nas peças,filmes,anúncios,música,poemas e gestos.Quem começou com essa ideia é uma incógnita para mim,e o que ganha-se com isso também.Mas ganha-se algo de qualquer coisa,do contrário,para quê o esforço de cria-lá?

Elas vem e vão no ritmo dos dias,das horas...não consigo as aceitar.Era bom no inicio,foi o que me disseram,mas já estou enjoado de não aceitar.Não aceitar está na moda.Odeio moda.

Elas vem e vão,e não ir atrás delas deve ter haver comigo.Será que eu consigo me aceitar?Tenho que ponderar sobre muitas coisas.Temos que ponderar sobre muitas coisas.Mas parece que tal fardo só recai sobre mim.

Elas vem e vão,essas pessoas,e eu gostaria de tomar seus olhos emprestados - ou a força mesmo - e as enxergar.É mais fácil aceitar pra você?Seus olhos fariam ser mais fácil pra mim?

Elas vem e vão,e talvez se eu ficasse cego,as enxergaria de uma forma natural,orgânica,sincera.Ainda existe algo orgânico no mundo?Ou a cultura substitui e industrializa o sentir também?Talvez só o meu sentir esteja errado,e minha vida seja vivida no descompasso.Eu peco.

Posso pegar seus olhos emprestados?A vista vai ser bonita.Eles vem e vão,mas não registram nada.Eles aceitam.

Aceitam?

Eu vou arriscar.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Traduzir

E não tem palavras 
que traduzam
o intraduzível. 

Quando o gritar
é cada vez mais 
necessário,
há o escapar. 

O escapar me vem, 
e de todas as formas, 
sem achar a quem. 

A catarse está ai
sem destino a encontrar. 
Em toda direção, 
estou a jorrar. 

As palavras vão sangrar
do meu interior
e então, sem pudor, 
já não irei mais pensar.